FIEE Abinee TEC 2021: eletromobilidade depende de políticas públicas

20/07/2021

O Brasil é um foco mundial de investimentos em eletromobilidade por representar um grande mercado potencial para os projetos envolvendo veículos elétricos. O País já dispõe de importantes iniciativas implementadas, mas o caminho a ser construído deve unir os avanços tecnológicos da iniciativa privada com a adoção de políticas públicas de incentivo à inovação. Esta é uma das conclusões do painel “Eletromobilidade: O Futuro dos Veículos”, realizado hoje durante o FIEE Abinee TEC 2021 Digital Week, mediado pelo superintendente da Copel, Júlio Shigeaki Omori.

O diretor de Marketing, Sustentabilidade e Novos Negócios da BYD Energy, Adalberto Maluf, considera que são necessárias políticas públicas que alavanquem o mercado de carros elétricos. “Não temos política ambiental nem política de eficiência energética que possam impulsionar o mercado”, disse. “Também temos ausência de políticas de inovação e pesquisa”.

Ele lembrou que atualmente as políticas industriais mundiais são feitas com base na inovação. “Aqui no Brasil, hoje um carro elétrico paga muito mais imposto que um carro a combustão'”.

Em sua opinião, o setor privado brasileiro não pode investir sozinho nas tecnologias disruptivas, sem apoio do setor público. “Falta ao governo brasileiro o papel de articulador e também uma visão de futuro, além disso, o Congresso parece desconectado das mudanças.”

O diretor geral da Divisão de Lítio do Grupo Moura, Fernando Pontual Castelão, observou que, no Brasil, os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento são pequenos em relação aos recursos investidos em outras partes do mundo. “Além disso, o País tem metas pouco arrojadas para redução de emissão, e com isso acabamos deixando o bonde passar, pois o etanol não vai resolver tudo”, afirmou. “Nenhuma montadora vai desenvolver um carro somente para rodar no Brasil.”

Para o gerente de Vendas do Segmento de Transporte América Latina da Hitachi ABB Power Grids, Henrique Gross, a capacidade de investimento do Brasil é muito limitada e, por isso, deve ser sustentada pela sociedade como um todo. Ele lembrou que há também desafios de infraestrutura, como a demanda de energia necessária para a circulação de ônibus elétricos, que vai requerer a instalação de subestações e toda uma reestruturação do desenvolvimento urbano.

Apesar dos desafios, é inegável o potencial brasileiro para se tornar um grande desenvolvedor das tecnologias de eletromobilidade. O Brasil tem recursos naturais e importantes iniciativas industriais em andamento para produzir e até para se tornar um exportador dessa transformação tecnológica.

Para o gerente de Desenvolvimento Automotivo e Eletromobilidade da Siemens, Alexandre Sakai,  a cadeia produtiva brasileira já está se movimentando aceleradamente com iniciativas de infraestrutura e produção de um ecossistema de eletromobilidade. Ele citou também as novas opções de cursos de capacitação para formar profissionais que vão atuar nessas tecnologias. “A eletromobilidade já é uma rota tecnológica em curso no Brasil”, sustentou. “Tem muita coisa para se fazer, mas já temos um histórico, com alguns avanços e hoje o veículo elétrico está no centro das transformações digitais”.

O gerente sênior de Electrification Business Powertrain Solutions da Robert Bosch, Alexandre Uchimura, lembrou que já há mais de 2,5 milhões de veículos com componentes de eletromobilidade rodando no mundo. “Existe cada vez mais aceitação do consumidor e consciência ecológica para o uso dos veículos elétricos”, disse.

O diretor geral da Divisão de Lítio do Grupo Moura, Fernando Pontual Castelão, apresentou projeções segundo as quais, em 2040, mais de 57% dos veículos no mundo serão elétricos. Hoje são quase 12 milhões. “Atualmente, mais de 50% dos ônibus vendidos no mundo já são elétricos, dado o impacto positivo na redução de emissões de gases”, observou. China e Europa são os mercados que mais investem nessa tecnologia.

O diretor de Sistemas Industriais e Mobilidade Eletrônica da WEG, Valter Luiz Knihs, afirmou que o planeta está passando por uma transformação gigantesca, com ocorrência de “megatendëncias” disruptivas simultâneas que trarão mudanças seculares que envolvem tecnologias sustentáveis e o país deve aproveitar essa oportunidade.

O painel também abordou iniciativas de padronização de componentes para orientar o mercado brasileiro proporcionando segurança para desenvolvedores, importadores e usuários. Os debates nesse sentido ocorrem no âmbito da ABNT.