07 ago Estudo revela supercustos para a empresa nacional
07/08/2020
No campo da competitividade global e também interna, as empresas brasileiras começam o jogo em desvantagem na comparação com as de países desenvolvidos. Culpa do chamado Custo Brasil, que agrega alta e complexa tributação, burocracia excessiva e gargalos de logística. Essa certeza foi quantificada por um estudo encomendado pelo Ministério da Economia e realizado pelo movimento Brasil Competitivo (MBC) e associações do setor produtivo.
O estudo, inédito, comparou o Brasil com membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e estimou o tamanho da desvantagem: R$ 1,5 trilhão, que é o valor pago a mais pelas empresas brasileiras para realizarem seus negócios. Essa cifra representa 22% do PIB, que é a soma de todas as riquezas produzidas no país.
A redução do Custo Brasil sempre foi uma das principais bandeiras da CNI (Confederação Nacional da Indústria) (leia na pág.4). O tema é crucial para o crescimento e desenvolvimento econômico do país, uma vez que a redução deste custo impulsionaria a retomada da atividade econômica, do emprego e da renda.
O trabalho do MBC levou quatro meses de coleta e agrupamento de centenas de dados e índices e contou com a parceria da iniciativa privada e do poder público. Mas a questão mais importante é: como reduzir esse custo que tira a competitividade das empresas brasileiras?
Para o secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), do Ministério da Economia, Carlos da Costa, a estratégia é atuar em cada um dos temas levantados no estudo, mas priorizando aqueles que têm maior impacto para as empresas brasileiras. Costa é responsável pelo Programa de Melhoria Contínua da Competitividade, que usa como guia o estudo sobre o Custo Brasil.
“Os trabalhos práticos para reduzir os custos para as empresas já foram iniciados e nossa ambição é zerar o Custo Brasil. Até o final deste ano deveremos fechar as metas com os índices de redução a cada ano: 2021, 2022, 2023 e assim sucessivamente. Mas o mais importante é que já sabemos o caminho, o que precisa ser feito e contamos com o apoio e ajuda dos setores privados e produtivos. Eles estão indicando o rumo a ser seguido e estamos trabalhando juntos para solucionar esse problema”, afirmou Costa.
Para se chegar ao cálculo do Custo Brasil foram analisados 12 temas (veja quadro abaixo), representando o ciclo de vida de uma empresa. Do total de itens analisados, cinco impactam de forma mais significativa os negócios e representam quase 80% do Custo Brasil. São eles: empregar capital humano, que está estimado entre R$ 260 milhões e R$ 320 milhões; honrar tributos, que custa cerca de R$ 260 milhões a mais às empresas brasileiras; dispor de infraestrutura, fundamentalmente logística e comunicação, que causa um impacto a mais nos negócios de cerca de R$ 210 milhões; acesso a capital ou financiar o negócio, estimado em cerca de R$ 200 milhões; e insegurança jurídica, cujo custo é de cerca de R$ 180 milhões.
Para o empresário e presidente do Conselho Superior do MBC, Jorge Gerdau, a cifra é catastrófica. “Se as empresas brasileiras não estiverem no mesmo patamar que suas concorrentes globais, elas não terão mercado. A competitividade global é cada vez mais acirrada”, disse Gerdau.
Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), afirma que as empresas do setor que representa sentem ainda mais os impactos do Custo Brasil. “Antes mesmo da pandemia chegar ao Brasil, em fevereiro, as empresas eletroeletrônicas já sofriam com a falta de componentes, que vêm da China. O Brasil não consegue atrair fábrica de componentes por tem um custo muito alto. Esse problema precisa ser revolvido, pois quando falamos em indústria 4.0 temos que ter uma indústria eletrônica de altíssimo nível. Não podemos depender totalmente da China”, diz Barbato.
O estudo, segundo José Velloso, presidente executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), mostrou os enormes desafios enfrentados pelas empresas no Brasil. “No caso específico da indústria, o peso dos tributos é ainda mais pesado que para qualquer outro setor. Por isso, a urgência da necessidade da reforma tributária. Para o orçamento do país, a principal reforma foi a da Previdência, mas para o setor produtivo, a principal é a tributária, sem dúvida”, disse Velloso.