Revista 107 - Dezembro/2024

DEZEMBRO 2024 | REVISTA ABINEE 27 O Plano anunciado é positivo e viável? A elaboração de um Plano Nacional de IA, de maneira geral, é extremamente importante, especialmente no sentido de estabelecer esforços coordenados para impulsionar o desenvolvimento e uso de sistemas baseados em IA no país. A proposta prevê investimentos consideráveis em cinco diferentes eixos (mais de R$ 23 bilhões). No entanto, preocupa-nos algumas premissas estabelecidas, como o conceito de “soberania/autonomia tecnológica”. O Plano deveria focar em incentivar o desenvolvimento e o uso de IA, como ferramenta relevante para impulsionar a transformação digital, independentemente de onde ela seja concebida. É estrategicamente relevante se criar mecanismos para atrair investimentos e alavancar o desenvolvimento de tecnologias no Brasil, sem prejuízo do uso concomitante de soluções internacionais. Quais os principais destaques? O principal destaque são os investimentos previstos em cinco diferentes eixos, sendo o eixo “IA para Inovação Industrial” o que contém um maior valor previsto, por trazer iniciativas relevantes, como as voltadas para aumento da produtividade, estruturação e fortalecimento da cadeia produtiva de IA no Brasil, além de criação de centros de apoio à IA na indústria e mecanismos voltados para a retenção de talentos no país, todos aspectos fundamentais para o desenvolvimento da indústria e do setor produtivo. E os principais desafios? A proposta traz algumas preocupações, para além do conceito de “soberania tecnológica”. Por exemplo, como consequência desta premissa, existe uma iniciativa específica para a criação de uma nuvem soberana nacional, voltada para sustentar a infraestrutura de dados do governo. Essa iniciativa poderá limitar compras públicas e processos de licitações de nuvens providas por provedores privados, bem como impedir que o governo tenha acesso às melhores soluções globais oferecidas pelas empresas. Nesse ponto, pode-se inadvertidamente comprometer a eficiência do Estado e trazer prejuízos robustos para a indústria nacional. Outra iniciativa preocupante refere-se a criação de um Centro Nacional de Transparência Algorítmica e IA Confiável. Dependendo da composição desta instituição, ainda não definida, as discussões em torno da transparência podem ser distorcidas e gerar confusões conceituais. Mesmo saindo atrás de outras nações, podemos diminuir o gap hoje existente na aplicação desta tecnologia a partir do volume de investimentos e das metas do plano? Em princípio, sim. Tudo dependerá da coordenação de esforços do governo em cumprir o volume de investimentos e metas. Nesse sentido, seria fundamental que o PBIA abrisse mão da abordagem focada em soberania tecnológica, e compreendesse a IA como uma ferramenta global de oportunidade, sendo indispensável a cooperação internacional. Assim, o país poderá se aproveitar da cadeia internacional de valor intrínseca às tecnologias digitais e potencializar o desenvolvimento e uso de soluções de IA responsáveis e interoperáveis. E como o nosso setor pode contribuir? O setor de tecnologia poderá contribuir com o compartilhamento de conhecimentos, padrões e melhores práticas internacionais em IA, de modo a auxiliar para que o PBIA fique cada vez mais próximo das discussões internacionais. Assim, o governo brasileiro atuaria de maneira a incentivar o desenvolvimento e uso de IA responsável no país. ENTREVISTA PBIA: ESFORÇOS COORDENADOS A indústria elétrica e eletrônica, representada pela Abinee, tem papel central na aplicação e desenvolvimento de soluções de IA. Por conta disso, a coordenadora do Grupo de Trabalho de Inteligência Artificial e Segurança Cibernética da Associação, Ana Paula Bialer, tem acompanhado as diversas discussões sobre o tema. Em entrevista à Revista Abinee, ela comenta sobre o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) anunciado pelo governo.

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