Após onda de notebooks e banda larga, consumidor agora quer mais acessórios

07/11/2020

Em poucos meses, o computador da família que estava parado no canto da casa voltou a ser usado. O home office e as aulas online exigiram ainda o aperfeiçoamento da tecnologia doméstica –incluindo aí internet mais rápida e mais aparelhos e acessórios disponíveis.

Esse movimento foi sentido principalmente no primeiro trimestre. Dados da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) apontam que, nesse período, o consumo migrou dos populares celulares (que tiveram uma queda de 9% em unidades comercializada) para desktops, notebooks e até tablets, cujas vendas subiram 21%.

“Trabalho e ensino remotos começaram a exigir produtos mais sofisticados e em quantidade suficiente para atender a todos os membros da família. O cenário de antigamente, no qual um computador atendia todo o mundo, mudou”, afirma Humberto Barbato, presidente da associação.

Foi exatamente porque o seu computador antigo quebrou que Giliane Lima Parzanese, 35, se viu obrigada a comprar um novo notebook para que sua filha, Valentina, pudesse ter aulas online.

“Tínhamos um computador parado que só voltou ao uso por causa do home schooling e acabou quebrando. Mas, como as aulas online continuavam, tivemos que comprar um novo. Acabamos optando por um notebook com câmera embutida”, afirmou.

A disparada na venda desses aparelhos também foi puxada por pessoas jurídicas. Segundo o presidente da Positivo Tecnologia, Hélio Bruck Rotenberg, a primeira onda de demanda veio principalmente de empresas que, de um momento para o outro, precisaram adaptar suas estruturas para o trabalho remoto.

“Quando a pandemia começou, todo tipo de empresa, principalmente bancos, compraram uma enorme quantidade de computadores para atenderem aos seus funcionários. Foi só em um segundo momento que os consumidores passaram a buscar esses produtos, porque perceberam que o home office e o home schooling poderiam demandar muito mais performance”, afirma.

Segundo Rotenberg, o inesperado aumento de vendas de PCs em 62% de maio a julho, em relação a igual período de 2019, fez com que a Positivo antecipasse novos modelos previstos para este e para o próximo ano. Foram nove estreias desde abril.

Cresceu também a demanda por tecnologia para lazer e entretenimento. Plataformas de streaming –como a Netflix– e games ganharam espaço e impulsionaram a busca por aparelhos mais sofisticados.

“Vimos uma alta de equipamentos com grande desempenho, mas também cresceu a procura por versões mais simples, de entrada”, diz a gerente de marketing da Intel Brasil, Giovana Gaiolli.

Varejistas notaram ainda mais demanda por acessórios, como ring lights (anéis de luz, na tradução literal), fones de ouvido e carregadores.

“Quando começamos a sentir que fronteiras poderiam fechar e o consumo interno aumentaria, corremos para colocar diversos produtos no estoque e nos anteciparmos a essa demanda”, diz Julio Cesar Trajano, diretor comercial do ecommerce do Magazine Luiza.

“Agora estamos nos preparando para um momento muito bom que está por vir, com um consumidor mais adaptado às compras online e preparado para os próximos meses.”

A auxiliar administrativa Emanuelle Aguiar, 27, fez um upgrade na compra de um novo notebook.

“Com a chegada do home office, não teve jeito, eu precisei comprar um notebook novo, com memória maior, que fosse mais rápido e que tivesse uma câmera, já que, além do trabalho e reuniões, eu também o utilizo para os meus estudos”, diz ela.

“Além disso, com todos da família trabalhando em casa, também precisamos aumentar a internet, que começou a oscilar com a sobrecarga.”

Ou seja, o setor de telecomunicações também precisou se adaptar. Segundo o diretor de marketing da Claro, Marcio Carvalho, o movimento trouxe mudanças no uso da rede e na geografia da conexão, cujo tráfego se desconcentrou dos centros comerciais e passou a irradiar para a borda das cidades.

“Fomos adicionando capacidade [na rede] conforme a demanda foi crescendo. O primeiro degrau foi ter a melhor conectividade possível que coubesse no orçamento. Depois, veio o consumo dos diversos aplicativos”, disse.

Carvalho conta que também houve o aumento da procura pelos “combos”, que incluem televisão paga e telefone fixo, além da internet residencial.

O setor de telecomunicações, que já vinha de um período de adaptações em sua infraestrutura para receber o 5G, precisou agilizar a expansão da rede para a periferia das cidades.

“Com a pandemia alcançamos bairros aos quais ainda não havíamos conseguido chegar e, inclusive, expandimos o alcance da rede para algumas cidades menores”, afirma o vice-presidente de vendas e marketing da Vivo, Marcio Fabbris. “O processo estava em curso e se intensificou nos últimos meses, mas ainda temos muitas casas a alcançar.”

Executivos do setor têm boas expectativas em relação à Black Friday e ao Natal e projetam que a crescente digitalização vai marcar as datas com boas vendas pela internet.

“A demanda crossmedia [uso de várias plataformas], que já era evidente nas gerações mais jovens, chegou aos clientes tradicionais, que antes faziam questão de ir até uma loja física”, diz o diretor de operações da Via Varejo, Abel Ornelas.