
04 abr Plenária aborda perspectivas para data centers
A primeira Reunião da Diretoria Plenária da Abinee em 2025, realizada no último dia 3 de abril, reuniu associados, especialistas e representantes de instituições públicas para discutir temas centrais à agenda do setor eletroeletrônico brasileiro. Os destaques foram a apresentação do especialista em energia e infraestrutura, Antonio Celso de Abreu Junior, sobre data centers e dos representantes do Banco Central, sobre a pesquisa Firmus, criada pelo BC para captar as expectativas do setor não financeiro.
O avanço de tecnologias disruptivas como inteligência artificial, metaverso, blockchain e computação quântica vem impulsionando a demanda global por infraestrutura digital — e os data centers estão no centro dessa transformação. Foi esse o foco da apresentação de Antonio Celso de Abreu Junior.
Segundo ele, o consumo de energia elétrica por data centers, IA e criptomoedas já representa cerca de 2% do total mundial, com tendência de dobrar até 2026. Só os data centers podem demandar, globalmente, entre 160 e 560 TWh adicionais, o equivalente ao consumo de países como Suécia e Alemanha. “Essa é uma mudança disruptiva como foi a energia solar. Muda toda a forma de pensar infraestrutura”, destacou.
Atualmente, o Brasil conta com 169 data centers em operação, metade deles concentrados no estado de São Paulo. A capacidade instalada dedicada à Tecnologia da Informação (TI) é de 0,74 GW, com expectativa de atingir quase 1,21 GW até 2029. Só entre 2021 e 2024, o número de pedidos de acesso à rede elétrica para data centers somou 22, equivalente a uma demanda potencial elétrica de 9 GW até 2035, incluindo TI e outras necessidades dos data centers. Os investimentos previstos poderão chegar a US$ 36 bilhões, ou cerca de US$ 10 milhões por megawatt de TI.
Além do alto consumo, esses empreendimentos requerem fontes de energia confiáveis e de baixo custo — preferencialmente com uso de autoprodução e contratos com fontes renováveis. A latência, ou seja, o tempo de resposta entre envio e recepção de dados, é apontada como um fator estratégico. “A localização é essencial. Estar próximo do usuário final e dos cabos de fibra ótica garante performance para streaming, jogos, aplicações críticas e serviços em nuvem”, afirmou Abreu.
A apresentação também alertou para os desafios regulatórios. O modelo brasileiro foi projetado para uma expansão de carga baseada no crescimento médio do PIB, com previsibilidade e planejamento centralizado. No entanto, a entrada massiva de grandes cargas privadas — como data centers e hidrogênio verde — rompe esse padrão. “Hoje, o sistema precisa se adaptar a um cenário em que a demanda cresce de forma imprevisível. Isso exige mais flexibilidade operativa, reforços na rede de transmissão e revisão na alocação de custos”, explicou.
No Brasil, um dos grandes diferenciais competitivos é a matriz energética majoritariamente renovável, com projeção de atingir 321 GW de capacidade instalada até 2034 e o sistema de transmissão centralizado. Ainda assim, será preciso acelerar a expansão e reforços da rede elétrica. O Plano Decenal de Energia prevê R$ 129 bilhões em investimentos em linhas de transmissão e subestações. Mas, segundo ele, a previsão atual do plano ainda não contempla o impacto da entrada de grandes cargas no sistema, como data centers e produtores de hidrogênio verde.
A integração dessas novas cargas também esbarra na rigidez do modelo atual. Em sua avaliação, o sistema brasileiro precisa conciliar alta eficiência com flexibilidade. A entrada de fontes intermitentes, como solar e eólica, requer soluções como baterias, usinas reversíveis e até térmicas com resposta rápida. “Caso contrário, corremos o risco de depender novamente de geração a diesel”, alertou.
Ao final da reunião, representantes da Abinee propuseram a criação de um grupo de trabalho para aprofundar o tema com os diferentes segmentos industriais e levar sugestões concretas ao governo. “Temos uma janela estratégica. Se não nos prepararmos, poderemos perder espaço para outros países que já estão com infraestrutura pronta”, concluiu Abreu.
Banco Central apresenta resultados da pesquisa Firmus
O assessor da Diretoria de Política Econômica Alfredo Lingoist Jr e o analista do Departamento Econômico do Banco Central Sammy Hadad apresentaram os objetivos e os resultados da pesquisa Firmus, criada pelo BC para captar as expectativas do setor não financeiro.
De acordo com Hadad, a pesquisa, aplicada trimestralmente desde o final de 2023, busca entender a percepção das empresas sobre inflação, PIB, custos operacionais e sentimento de mercado. O questionário é curto — leva cerca de 3,5 minutos — e os dados são tratados com sigilo absoluto. Inspirada em modelos de bancos centrais como os da Inglaterra e EUA, a Firmus visa subsidiar decisões de política monetária com uma visão mais próxima da realidade empresarial.
Segundo Lingoist Jr, os resultados da rodada de fevereiro de 2025 mostram que o setor produtivo tem uma visão discretamente mais negativa da economia brasileira em relação às pesquisas anteriores. A mediana das projeções de inflação para 2025 subiu de 4,2% para 5,5%, e a expectativa de crescimento do PIB se manteve em 2%. Já os custos com mão de obra e insumos devem subir entre 4% e 6%, segundo a maioria das empresas ouvidas.
Veja a apresentação do Banco Central
BC quer mais empresas participando
Segundo os especialistas do BC, a Firmus tende a se tornar um importante termômetro da economia real, à semelhança do que é hoje a pesquisa Focus para o setor financeiro. Apesar disso, a adesão ainda é baixa. O BC quer ampliar essa base e garantir mais robustez às análises. Empresas interessadas podem se cadastrar em pesquisa.bcb.gov.br/firmus-cadastro.